terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Poema obsceno

Façam a festa
cantem e dancem que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo como a miséria brasileira
Não se detenham: façam a festa
Bethânia
Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira
Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos façam a nossa festa enquanto eu soco este pilão
este surdo poema que não toca no rádio
que o povo não cantará (mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno como o salário de um trabalhador aposentado
o poema terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
- e espreitam.

(Gullar)

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