"Enfim, houve um dia, marco, em que o tocaram de leve no ombro. Ele olhou para o lado. Ao lado havia outra pessoa. A outra pessoa olhava-o com cuidadosos olhos castanhos. Os cuidadosos olhos castanhos eram mornos, levemente preocupados, um pouco expectantes. As transformações tinham se tornado tão aceleradas que, no primeiro momento, não soube dizer se a outra pessoa via a Ele ou a Ela, se se dirigia à moldura, à casca, ao cristal ou ao desenho, ao corpo original, às gotas de sangue. Isso num primeiro momento. Num segundo, teve certeza absoluta que se tinha desinvisibilizado. A outra pessoa olhava para uma coisa que não era uma coisa, era ele mesmo. Ele mesmo olhava para uma coisa que não era uma coisa, era outra pessoa. O coração dele batia e batia, cheio de sangue. Pousada sobre seu ombro, a mão da outra pessoa tinha veias cheias de sangue, latejando suaves."
(Caio F. Abreu)
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