domingo, 28 de dezembro de 2008


3
'Um dia aprenderei a dar um salto mortal para a vida,
Ou, talvez, saberei o que é ter no quintal uma árvore colorida.
Um dia aprenderei o cheiro doce do hálito dos amantes,
E também o silêncio ocre das bocas bacantes.
Um dia aprenderei a nadar no suor dos poros,
E me secarei, quem sabe, à sombra das peles macias;
Um dia saberei a espera que o tempo leva,
E, então, aprenderei o instante que fugia.
Um dia minha carne mergulhará no fundo,
E do barro da vida, tenho certeza: retornará o mundo.
Um dia, como as crianças, aprenderei a dizer com os olhos;
E, enquanto não chega esse dia: por favor, mãos à poesia!
Um dia aprenderei a contar as rugas dos guarda-chuvas,
E saberei que por elas escorreram as finas lágrimas dos deuses que se despediam.
Um dia, em que o mundo perderá a cor,
Aprenderei a caminhar como um trapezista cego (e sem guia!).
Um dia em que se perder toda música,
Aprenderei uma canção de silêncio, e ela será bastante.
Um dia aprenderei que as flores murchariam,
Porque a beleza apenas se oferece porque escapa.
Um dia aprenderei que as almas amam mais que os corpos,
E que os sonhos são indóceis, e indomáveis, como as vontades.
Um dia saberei nem muito nem pouco: o quanto,
E poderei dizer: para sempre, e nunca, e tudo, e tanto.
Um dia sorverei o sabor das paisagens,
O gosto que têm as flores,
E nesse dia aprenderei, também,
A penetrar a sensualidade das montanhas
- Delicadamente, como só as nuvens poderiam;
Ou, como só são capazes os pássaros
Que nelas fizeram o ninho que lhes abriga a solidão,
Ou como são capazes apenas as gotas de chuva da manhã que vem.
Um dia, mas hoje não, ainda...
Hoje, eu aprendo a sede dos que cansam;
No horizonte nossas almas dançam.'

(Murilo Duarte Costa Corrêa)

Nenhum comentário: